Entre exercícios e saúde
Adolescentes de diferentes idades buscam resultados em atividades físicas nas academias.
Academias de ginástica e musculação têm portas abertas para que as pessoas possam correr atrás de resultados, encontrar músculos desejados e desenvolver condicionamento físico. Há quem acredite que esse ambiente seja tomado por padrões estéticos duvidáveis e que geram discussões por conta de seus reflexos na sociedade. Incentivados por busca de ‘melhor aparência’, jovens enfrentam rotina disciplinada e acabam por aprender sobre os ganhos na saúde.
Pietro Antônio Gozzi Mori, 18 anos, de São Caetano, percorre esse caminho desde 2014, quando começou a fazer exercícios devido a bullying sofrido por conta do sobrepeso. “Ficava comendo e jogando videogame. Isso afetou meu psicológico e, incentivado por um amigo, resolvi começar a academia. Não parei mais,”, explica o garoto, que treina de terça a sexta-feira. As aulas de boxe em duas datas da semana e jogos de futebol americano aos domingos complementam a agenda. “Não sou o ‘chato do rolê’, mas sei que devo queimar mais calorias do que ingerir. É matemática. Por isso, me permito um chocolate ou lanche de vez em quando.”
O estudante local destaca a perigosa busca por ‘perfeição’ de corpos, com indivíduos que extrapolam a quantidade de exercícios e até buscam recursos perigosos. “A pessoa fica neurótica por causa da estética. Além disso, tem a questão do gosto de cada um. Eu nunca pensei em fazer uso de medicamentos, porque alcancei meu objetivo, ganhei saúde e um corpo que me agrada. Caminhei sozinho e minha luta sempre foi com o meu psicológico. Venci isso.”
Dados do Ministério da Saúde apresentados em junho mostram que, por conta dos quilos a mais, os brasileiros têm adotado vida mais saudável. Isso porque, em dez anos, houve crescimento de 110% no número de pessoas de 18 a 24 anos que sofrem com obesidade, quase o dobro do aumento em todas as faixas etárias (60%). O levantamento ainda mostra que a prática de atividades e consumo de hortaliças aumentou, e o de refrigerantes e bebidas açucaradas caiu.
Incentivada pelo pai, Estela Carloti, 14, mudou sua rotina há seis meses e já comemora certos objetivos alcançados, tendo perdido 14 quilos no período. “Não estava feliz com meu corpo e me sentia incomodada. Essa idade que estou é difícil, a gente se compara muito com as outras pessoas. Estava acima do peso e com ácido úrico, colesterol e triglicérides desregulados. Tudo melhorou”, conta a moradora de São Caetano. A garota sabe que não é preciso passar longas horas na academia e se matar de tanto treinar, mas também confessa que não pretende largar o recente estilo de vida.
A agitação nos aparelho abre espaço para quem deseja ganhar massa muscular. Aos 15 anos, o andreense Bruno Marlucci Lopes deseja ‘encorpar’ com massa magra para ficar forte. “Faço meu treino três vezes na semana, para não ultrapassar os limites. Gostaria que fosse algo rápido, mas sei que levará um tempo. Por isso comecei agora.” Na alimentação, não fez grandes mudanças no cardápio e buscam comer de maneira organizada de olho nos horários que vai à academia. “Tento me alimentar bem, mas como de tudo. Só antes de malhar que priorizo as frutas para dar energia.”
ATIVIDADES REGULARES DEVEM SER FEITAS DE ACORDO COM LIMITES DO CORPO DE CADA UM
Mexer o corpo é sempre bom, seja subir escadas ou praticar algum esporte específico. De acordo com recomendação da Organização Mundial da Saúde e do Programa Agita São Paulo, para reduzir os índices de sedentarismo entre os mais jovens, menores de 18 anos devem realizar, pelo menos, 60 minutos de atividades físicas moderadas a vigorosas cinco vezes por semana.
“A adolescência é a fase que experimenta mudanças físicas, fisiológicas, comportamentais e psicológicas. É neste período que ocorre muitas alterações hormonais. Existe, por exemplo, aumento substancial da testosterona entre os meninos. Este hormônio promove, dentre outras coisas, aumento da massa muscular. O exercício só causa prejuízo às pessoas que não estão aptas a realizarem”, afirma Maurício dos Santos, assessor científico do Centro Estudos Laboratório Aptidão Física São Caetano.
Ele explica que o organismo do ser humano detêm mecanismo denominado fadiga, grande sinal de que durante a execução dos exercícios foi alcançado o limite de cada um. Cansaço crônico (quando há dificuldade para se realizar atividades simples) e overtraining também servem de alerta.
Segundo o professor Rogério Toto, coordenador do curso de Educação Física da Universidade Metodista de São Paulo, as academias disponibilizam vários tipos de serviços. As mudanças por conta das atividades são realizadas aos poucos. “São de 30 a 90 dias a fase de adaptação. Mudar o estilo de vida, ser mais saudável e se exercitar não é da noite para o dia. Leva um tempo”, diz.
O docente recomenda que não se imite ações e costumes de parceiros de treino e lembra que as suplementações e medicações para acelerar resultados só surgem diante prescrição médica.
CONDICIONAMENTO FÍSICO PARA LUTAR CONTRA MUITO APETITE
Nada de jogar horas de videogame, ficar muito tempo no computador ou deitar no sofá na companhia de refrigerantes e guloseimas para ver TV. Gabriel Bodnarczuk Gomes decidiu não esperar muito tempo para ter uma vida mais saudável e, aos 13 anos, promoveu mudanças em seu dia a dia para competir com o alto nível de apetite que costumar ter. “De pequeno fiz judô e futebol, mas, mesmo me movimentando sempre tive a ‘boca boa’. Gosto de comer e isso me fez engordar.”
Por conta da idade, o adolescente de Santo André ainda não pode realizar musculação, tendo que respeitar os limites do corpo juvenil. Ele começou a praticar treinos regularmente em dezembro e se orgulha do corpo 10 quilos mais leve. Tudo é resultado de exercícios aeróbicos e agitados circuitos especiais. Os planos incluem eliminar mais 10 quilos até o fim do ano. “Vou me formar (no Ensino Fundamental) e quero me sentir bem para viajar com os amigos. Estou tendo acompanhamento nutricionista e isso tem me ajudado muito, também. Como mais e melhor”, afirma o jovem, que incluiu muitas frutas, verduras e legumes no cardápio. “Aprendi que não basta se mexer, é necessário controlar as quantidades no prato. Estou me reeducando. Sei que vou conseguir.”
Fonte: Do Diário do Grande ABC - Tauana Marin - 26/08/2018 | 07:07